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Por: Flávia Camarano

Tomar água de coco para se refrescar ou até mesmo depois da atividade física é um hábito rotineiro para os moradores do Distrito Federal. Diariamente, chegam à Capital Federal cerca de três caminhões vindos da Paraíba, Bahia e Pernambuco, cada um transportando sete mil cocos. No fim do mês, a conta do consumo passa de 600 mil. Sem ter onde descartar a fruta – matéria-prima para a indústria automobilística e artesanato – consumidores e vendedores jogam toneladas de coco em contêineres, que acabam no lixão. Há 8 anos, a Cooperativa dos Trabalhadores em Coco do DF (Coopercoco) briga para entrar em funcionamento e mudar esse cenário. “Temos todo o maquinário comprado, que está guardado. Mas ainda não fabricamos”, diz o presidente da entidade, José Roberto Melo Machado.

No mês passado, a Coopercoco, única no segmento em todo o DF, obteve a licença de instalação que é concedida por órgãos ambientais do governo. Com recursos já garantidos por meio de parcerias, já possui área para a construção da unidade de beneficiamento no Riacho Fundo I. Machado conta que foram cumpridas todas as exigências ambientais. “Espero que até no final do ano a gente esteja com pelo menos a licença de operação. Levamos dois anos e meio de uma licença para outra”, complementa.

Desperdício

Do coco, não se aproveita apenas a água e a massa – parte branca comestível de nome técnico albúmen. Cerca de 80% da fruta é constituída por fibra que, depois de processada, pode ser utilizada pela indústria automobilística no estofamento dos carros, como substrato agrícola, peças para artesanato, madeira para a construção civil e na recuperação de áreas degradadas. “Eu sei que do coco não se perde nada. Eu vendo cerca de 50 a 60 por dia. Vai tudo para o lixo”, lamenta o vendedor Divino de Faria de Souza, 60, que trabalha em frente ao prédio da Câmara dos Deputados, de segunda a sexta-feira.

O piauiense José Ribamar Cavalcante, 42, mora há seis anos em Brasília. Em 1982, trabalhou em uma cooperativa que processava o resíduo do coco – especialmente a fibra para atender a produção dos carros Gurgel e Puma – em Fortaleza, no Ceará. “É um desperdício. Se é para aproveitar, não é para jogar fora”, revolta-se, ao ver o destino da fruta nas ruas de Brasília.

Enquanto o tempo passa, o lixão é o destino de mais de mil toneladas de matéria-prima que poderiam estar sendo processadas, gerando mais de cem empregos diretos, novos produtos e protegendo o meio ambiente. Para agravar ainda mais a situação, a casca do coco contribui para a proliferação de doenças como dengue e febre amarela.

O biólogo e consultor ambiental, João Carlos Nunes Batista, faz parte da cooperativa e é um dos membros que utiliza, de forma rústica, as fibras do coco e seus subprodutos para serem aplicados na floricultura. “A fibra de coco é uma matéria orgânica inerte, neutra. Você pode cultivar o que quiser desde que você faça a adubação exigida para aquele tipo de cultivo. A fibra não é adubo”, explica. Sobre o descarte inadequado no DF, o especialista lembra que o lixão é apenas um dos problemas. “E aquela quantidade que vai para os bueiros, que ficam perdidos? Tem muito coco que a gente não imagina onde vai parar”, alerta Batista.

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Uma oficina para esclarecer sobre comercialização e geração de renda reuniu integrantes da Cooper Coco na manhã de segunda-feira no Sebrae. Além dos cooperados, participaram a deputada federal Erika Kokay e o consultor Odécio Rossafa. O grupo discutiu a rota de venda do coco no DF, estratégias para melhor comercialização e renda dos trabalhadores. Na ocasião, os cooperados também comemoram a liberação da licença ambiental para construção de um galpão que será a nova sede da cooperativa. Atualmente no Guará II, a Cooper Coco terá seu novo espaço no Riacho Fundo I com área para a construção de um galpão que irá abrigar a reciclagem e o administrativo. Os valores foram custeados pela Fundação Banco do Brasil. A ideia é que a cooperativa – que hoje conta com 32 associados – continue crescendo.”Meu pai sempre foi um entusiasta da Cooper Coco. Foi todo um processo, uma construção para se chegar no trabalho em rede. Tudo isso fez com que a gente tivesse a primeira cooperativa de Coco”, disse a deputada, lembrando do que dizia o pai, Lojos Ferenz Kokay, que há oito anos incentivava a criação da entidade.

Segundo Zé Roberto, um dos colaboradores da Cooper Coco, a próxima etapa é incrementar o processo de reaproveitamento dos resíduos do coco verde. “Através de parcerias, como a realizada com o Instituto Federal de Brasília, queremos aproveitar não só a água, mas a polpa para uso culinário e o restante, como as fibras do coco, para o manejo de artesanatos e artigos decorativos.” Ele também conta do desejo da entidade em aumentar as vendas e distribuidoras do coco no DF. Os carregamentos chegam dos estados da Paraíba, Pernambuco e Bahia. “Gostaríamos de poder investir em uma grande compra e repassá-la a preços mais acessíveis aos distribuidores e vendedoras fomentando, assim, maior lucro entre os envolvidos”, explica. Erika reforça a ideia de que “a cooperativa nasceu de um modelo participativo, sendo reconhecida como um grande instrumento de inclusão, favorecendo os desprovidos de renda”.

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